quarta-feira, 11 de junho de 2008

Manoel Lisboa: herói da luta pela libertação dos trabalhadores brasileiros

Manoel Lisboa de Moura nasceu em Maceió, no dia 21 de fevereiro de 1944, filho de Augusto de Moura Castro, oficial da Marinha, e de Iracilda Lisboa de Moura. Sua formação político-ideológica não se deu apenas por meio de leituras, nem sua prisão ocorreu simplesmente por vender livros proibidos. Ainda adolescente, organizou o grêmio do antigo Liceu Alagoano, depois Colégio Estadual. Foi diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (Uesa) e aos 16 anos ingressou na Juventude Comunista do PCB. Como universitário, organizou o Centro Popular de Cultura da Une (CPC), apresentou e dirigiu peças de teatro, envolvendo, inclusive, operários da estiva.
O golpe militar de 1964 encontrou-o cursando Medicina na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), de onde o expulsou, cassando-lhe os direitos políticos. Nessa ocasião, pertencia ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), organização criada em 1962, diante da linha reformista adotada pelo velho “Partidão”, desde o XX congresso do PC da União Soviética, fato que provocou a cisão dos militantes.
Lisboa transferiu-se para o Recife, onde continuou na luta revolucionária e trabalhava na Companhia de Eletrificação Rural do Nordeste (Cerne). Em julho de 1966, foi novamente preso, logo após o atentado contra o ditador de plantão, Mal. Artur da Costa e Silva, ocorrido no Aeroporto dos Guararapes.
A polícia não conseguiu incriminá-lo, pois o inquérito comprovou que ele, no momento do ocorrido, estava trabalhando na Cerne com seu irmão, engenheiro e capitão do Exército. Posto em liberdade quatro dias depois, concluiu que não era possível continuar levando uma vida legal e dedicar-se à causa revolucionária, optando então pela vida clandestina.
Dezembro de 1966. Manoel Lisboa, Amaro Luiz de Carvalho, o Capivara (Veja A Verdade, nº 9), Ricardo Zaratini Filho (engenheiro, banido do Brasil em 1969, após o seqüestro do embaixador estadunidense) e outros companheiros fundaram o Partido Comunista Revolucionário (PCR).
Apesar das duras condições da luta clandestina, o PCR procurou ligar-se às massas camponesas, operárias e estudantis em todo o Nordeste. Para isso, desenvolvia trabalho de conscientização na base e intensa campanha de denúncias das arbitrariedades e crimes cometidos contra os trabalhadores, conclamando o povo para organizar-se e lutar por seus direitos. O Partido propunha a utilização de todas as formas de luta, legais e ilegais, abertas ou clandestinas, destacando a luta armada como a única capaz de destruir realmente a ditadura, desde que contasse com o apoio, a compreensão e a simpatia do povo.
A libertação do povo acima de tudo
No dia 16 de agosto de 1973, a repressão conseguiu seu intento. Quando conversava com uma operária, a quem dava assistência política, na Praça Ian Flemming, no bairro de Rosarinho, Recife, Manoel Lisboa foi agarrado por um bando de fascistas, sob as ordens do agente policial Luís Miranda, de Pernambuco e do delegado paulista Sérgio Fleury, algemado, arrastado para um veículo e conduzido para o DOI-Codi do IV Exército, então situado no parque 13 de Maio. Fortunata, a operária, presenciou a cena. “Foi uma verdadeira operação de guerra. Quando um homem se aproximou, ele fez menção de pegar a arma, mas foi inútil. De todos os lados da praça surgiam homens. Carros e carros surgiram”.
Um verdadeiro comunista revolucionário

Numa de suas belas e contundentes canções, o compositor e cantor Zé Ramalho afirma que “na tortura toda carne se trai”. Errado. Manoel Lisboa foi submetido a todo tipo de tortura. Despido, pendurado no “pau-de-arara”, espancado por todo o corpo, choques elétricos no pênis, nas mãos, nos pés, nas orelhas, queimado com vela, logo nos primeiros dias perdeu a sensibilidade dos membros inferiores, não podia se locomover, nem se alimentar.
Manoel sabia tudo da organização. Era seu dirigente máximo, conhecia todos os segredos. Um segundo de vacilação e o PCR estaria completamente aniquilado. Mas ele foi coerente com o que sempre pregara: “Delação é traição e a traição é pior do que a morte. O revolucionário é como um prisioneiro de guerra; só declina o próprio nome. A causa revolucionária, a democracia, a libertação nacional, o socialismo estão acima da própria vida”.
Maria do Carmo Tomáz e Juares José Gomes viram-no cheio de hematomas e ouviram seus gritos. Outros prisioneiros chegaram a falar com ele, que disse: “Sei que minha hora chegou; fiz o que pude; a vocês, peço apenas que continuem o trabalho do Partido”.
Manoel Lisboa Vive! Viva o PCR!

Agora, passados trinta anos, Manoel volta para os braços dos seus Familiares, amigos, companheiros e é recebido como herói em Recife e Maceió, cidades onde viveu e lutou, deu o melhor de si pela causa da liberdade e do socialismo. Homenageado pelo Partido que fundou e que, graças à sua bravura, sobreviveu à sanha da ditadura, fortalecendo a cada dia a sua organização e ampliando a ligação com as massas, como defendia seu fundador.

Um comentário:

ROBERTO ALMEIDA disse...

A sua luta, o seu papel, serve de exemplo camarada Manoel.